De fato, o peso de um imposto altíssimo mantinha a população muito pobre e o país estava à beira da bancarrota na manutenção das enormes colônias somada a enorme dívida externa e déficit comercial. O relacionamento com a aliança Inglaterra-EUA e mesmo com a Rússia deteriorava e na Coréia surgiam movimentos de revolta e de independência.
Os dirigentes japoneses encontraram, portanto, na Grande Guerra, a oportunidade única da saída da crise que atravessavam.
Ignorando a situação incômoda que causaria à Inglaterra, o Japão “se aliou” a ela na guerra. A imprensa esclarecida, a começar pela revista TOYOKEIZAISHINPO foi contra a decisão. Pela primeira vez na história, houve mesmo dentro do Parlamento, posição contrária a uma decisão tomada com a anuência do próprio Imperador.
A Marinha invadiu imediatamente as ilhas ao sudeste da Ásia, dominadas pelos alemães, e o exército conquistou a fortaleza alemã em Chintao.
A força aliada exigiu então a participação japonesa na frente européia, porém, a guerra já se encontrava próxima do seu desfecho e foram enviadas somente pequenas frotas ao Mediterrâneo. Mesmo após a saída do exército alemão, os japoneses permaneceram nas regiões ocupadas e até aumentaram o contingente e, em janeiro de 1915, entregaram ao máximo mandatário chinês, En-Sei-Kai, as condições da ocupação que exigiam o reconhecimento do sul da Manchúria como colônia japonesa, a associação japonesa à indústria pesada Kanyahyo (maior indústria metalúrgica chinesa), o controle político pelos conselheiros japoneses, o controle da força policial pelos japoneses, o fornecimento de 50% do armamento do exército pela indústria japonesa, o direito da posse de imóveis pelos japoneses, etc, em 7 itens que eram inaceitáveis mesmo a um país acostumado com tanta exploração estrangeira. Embora as sete exigências fossem retiradas, os chineses viam a partir daí os nipônicos como os piores inimigos imperialistas...
Para piorar a situação, os oficiais deslocados para a China começaram a agir independentemente do governo e, até do comando do exército, provocando, doze anos mais tarde o assassínio do líder Chau Sa Lin, e o Incidente de Manchúria três anos depois desse fato.
A Primeira Guerra Mundial proporcionou ao Japão não apenas a realização de uma parte do plano de avanço na conquista da China, mas também um florescimento econômico. Logo após a eclosão do conflito, houve período de recessão globalizada, porém, a partir do segundo semestre de 1915, as exportações aumentaram sobremaneira e, houve, em conseqüência, um grande crescimento industrial, acompanhado de lucro com o transporte marítimo. De um país importador, o Japão passou a ser um país exportador.
Esse florescimento econômico inesperado consolidou a estrutura capitalista do país. Como conseqüência, houve a “elitização” do governo dominado por capitalistas que se beneficiavam com a situação, dentre os quais os grupos Mitsui e Mitsubishi.
Este “auxílio divino” festejado pelos poderosos pôs a imensa população operária mundial em dificuldade absoluta, aumentando a diferença social e confrontando as potências imperialistas com as suas colônias empobrecidas e oprimidas.
No dia 8 de março de 1917 ocorreu então a Revolta dos Democráticos no Império Russo, já enfraquecido, e, em 7 de novembro, sob a liderança de Lênin (e financiados pelos milionários americanos e europeus), a Revolução Bolchevique ou comunista.
O término do conflito mundial reavivou o atrito entre o Japão e os países imperialistas ocidentais, mormente a aliança Inglaterra-EUA. A partir de 1920 a restrição aos imigrantes japoneses nos EUA se tornou mais intensa e já se comentava a aproximação de um conflito armado entre as duas nações. De fato, a imigração japonesa foi totalmente proibida em julho de 1924. Em maio de 1921 a Inglaterra notificou ao Japão que não haveria renovação ou reconsideração de uma nova aliança.
Isolado como um poder imperialista, sem apoio das demais nações, a esta altura os militares definiram os dois inimigos a combater: o Exército se voltou contra a República Socialista Soviética, a antiga Rússia, e a Marinha se lançaria contra os americanos.
Este confronto simultâneo com as duas grandes potências mundiais traria uma enorme carga para a economia japonesa, que resultou mais tarde num grande desastre...
Como um exemplo do totalitarismo reinante na época, poderíamos citar um terrível incidente logo após o Grande Terremoto de 1923 (Kanto Dai Shinsai): Seguindo a catástrofe que matou dezenas de milhares de pessoas, surgiu um rumor de que os coreanos residentes estariam promovendo revoltas e envenenando os poços e mananciais. O Primeiro Ministro ordenou imediata repressão e, tanto o governo quanto as forças policiais e militares, embora soubessem que tudo era sem fundamento, contribuíram na sua propagação, causando prisões ilegais e assassinatos de mais de 3000 coreanos (fala-se em até 10000), além de líderes das oposições. Embora houvesse posteriormente grandes manifestações de protestos contra a morte desses líderes opositores japoneses, pouco se falou dos irmãos vizinhos...
A grande crise mundial de 1929~1930, além de trazer dificuldade econômica, atraiu também a crise ideológica, trazendo ao poder político e militar grande temor. Havia lutas internas na Coréia e na China, tornando negro o futuro do imperialismo japonês. A situação de Manchúria era especialmente crítica: o investimento japonês se concentrava ali: 70% de todo o investimento externo pertencia ao Japão. Dentro do país havia o movimento de emancipação liderado pelo Chau Ga Lyau, filho de Chau Sa Lin, morto pelo exército japonês. O partido comunista chinês, fora-da-lei, se organizava sob liderança de Mao-Tse-Tung e Shu-Tau. E, ao contrário do mundo capitalista, a União Soviética se consolidava, influindo na opinião da classe trabalhadora do mundo inteiro, o que ainda mais excitava o sentimento antinipônico dos povos dominados.
O Premiê Hamaguchi tentou uma reaproximação com a aliança Inglaterra-EUA para obter auxílio na recuperação econômica e agir com cautela em relação à China, procurando resolver politicamente as questões em disputa. Entretanto, o poder militar foi totalmente contra esta postura. Este era da opinião de que deveria controlar totalmente a Manchúria, tornando-a colônia e se preparar para atacar os russos vermelhos. Formou-se em segredo uma associação denominada “Associação da Cerejeira” para realizar um golpe de estado. Embora este acabasse somente na intenção, não houve nenhuma reprimenda por parte dos superiores ou pior, houve um acobertamento do fato ao grande público. Planejaram, então provocar uma guerra para criar uma situação de emergência que possibilitasse um golpe de estado.
Aproveitando-se de vários acontecimentos, foram preparando o espírito do povo para a iminente intervenção armada em Manchúria. Em 18 de setembro de 1931, uma parte do exército liderada por oficiais de segundo escalão forjou um ataque chinês, explodindo um trecho da ferrovia em Manchúria. Era o início do Incidente de Manchúria. Embora este ataque não tivesse sido comunicado aos comandantes que há três anos foram inflexíveis na manutenção da paz, quando Chau Sa Lin foi assassinado, desta vez estes foram tolerantes e todos levaram adiante o plano da ocupação sinistra e ilegal.
No início do conflito, nem toda a população japonesa se posicionou a favor da invasão. O governo utilizando-se do novo meio de comunicação, o rádio, em seu poder, e censurando outros meios, abafava toda a manifestação contra o seu intento e, no final havia apenas os comunistas que, ao cantar o fim do poder imperial e a defesa dos interesses soviéticos, acabaram por afugentar a oposição. Pouco a pouco o povo japonês começou a se unir em apoio à guerra e ao governo que, por sua vez iniciou a alerta das dificuldades para os anos 35 e 36. Com o esforço redobrado do povo, as atividades industriais se intensificaram e, no início de 1932, o Japão se antecipou a outros países na recuperação econômica pós “Clash”, alcançando em 1933 resultados positivos, o que indiretamente serviu de trampolim ao apoio popular às guerras. Não é necessário acrescentar que neste ínterim todos os movimentos marxistas e pacifistas foram debelados.
Um mês após o início do Incidente de Manchúria, os seus líderes tentaram novamente um golpe de estado, porém o plano acabou somente na tentativa devido às dissensões internas. A conseqüência foi, porém, a demissão de todo o ministério e a subida ao poder de SEIYUKAI com Inukai como Premiê. Este proibiu, de imediato, a exportação de ouro e tomou a posição de guerra. A extrema direita, porém, ainda não se satisfez com este ministério e, em fevereiro de 1932 foi assassinado o ex-ministro da fazenda Junosuke Inoue, seguido de Takuma Dan, diretor do grupo Mitsui em março, ambos vítimas do grupo denominado “Ketsumeidan”. Finalmente em 15 de maio o próprio Inukai foi assassinado na residência ministerial pelos oficiais da marinha e cadetes do exército.
Era o fim do ministério legítimo. Daí em diante seriam escolhidos somente elementos da nobreza ou líderes militares.
As tentativas de golpe ainda aconteceram em várias ocasiões e as forças armadas se dividiam em duas facções antagônicas: KODOHA ligada às novas indústrias militares, e TOSEIHA, liderada pelo Tetsuya Nagata, alto mandatário do Ministério do Exército que atraía os grandes conglomerados capitalistas como Mitsui, Mitsubishi e empresas estrangeiras, sendo atacada pela primeira como marionetes do poder econômico. Em agosto de 1935, um oficial do primeiro grupo assassinou Nagata no seu próprio gabinete. Durante o julgamento, houve novos tumultos provocados pelos companheiros dos matadores. Assassinaram o Ministro da Fazenda, Takahashi, outro Ministro chamado Saito, o Secretário da Educação chamado Watanabe, ferindo gravemente um outro elemento do governo. Mataram uma outra pessoa confundindo-a com o Primeiro Ministro Keisuke Okada.
Os oficiais rebeldes, como todos os terroristas após o incidente do grupo KETSUMEIDAN, se revoltaram contra o capitalismo desumano que oprimia os agricultores que viviam em condição subumana, porém, não visavam qualquer alteração radical na estrutura capitalista vigente. O seu líder intelectual Ikki Kita era sustentado por Shigeaki Ikeda, diretor do grupo Mitsui. O seu livro sobre o plano de reestruturação do Japão pregava a limitação da fortuna individual em 1000000 de ienes e o capital de uma empresa privada em 10000000 de ienes, destinando qualquer excedente à propriedade e administração do Estado. Esta limitação não visava, porém, a eliminação de grandes capitalistas, mas proporcionava maior poder ao Estado e aos grandes grupos capitalistas. A meta dele era tornar o Japão a maior potência do mundo...
O movimento de revolta foi controlado no quarto dia e, ironicamente, a ditadura militar tão sonhada pelos seus membros foi obtida pela TOSEIHA. Após o incidente, foi escolhido Premiê, o ex-Ministro do Exterior Kouki Hirota de comum acordo com o exército. Consolidou-se o plano da expansão do império que culminaria com a Grande Guerra do Pacífico.
Para realizar esse intento, a economia, a política e a vida da população japonesa foram totalmente moldadas ao militarismo nacional. Proibiu-se a comemoração do “Dia do Trabalho”, criou-se a “lei de controle de crimes de ideologias”, e todos os que tiveram alguma atividade subversiva no passado eram constantemente vigiados...